A “Flutuar, Orquestra de Flautas” nasceu de um sentimento hoje raro: o entusiasmo de abraçar e levar adiante uma causa comum. Trata-se de professores, alunos, ex-alunos, amigos, colegas – companheiros dessa longa viagem que é a vida – que compartilham das mesmas paixões: a paixão pela música, a paixão pela flauta, a paixão pela liberdade. Esse sentimento espontâneo, nascido num mundo poluído pela ideologia binária das oposições absolutas (onde só pode haver o preto ou o branco, o caos ou o cosmos, o não ou o sim) acabou por congregar individualidades de idades, formações e origens sociais completamente distintas e se apresentou como um sopro de liberdade forte o bastante para varrer o pó de qualquer estagnação criativa. Por isso mesmo, a liberdade norteia o trabalho e a orientação estética deste grupo, que não se deixa prender a nenhuma corrente artística que lhe possa cercear a espontaneidade de expressão. Isso é o que lhe confere a originalidade artística e a ousadia da experimentação e da criação. Tudo na Flutuar é liberdade: a escolha de repertório, a estruturação dos arranjos, a atuação em palco, o despojamento de seus integrantes, a alegria de tocar em conjunto. Esse sentimento, hoje diluído na impositividade de um mundo que se quer organizar à força, vem romper com a autoridade do sim ou do não absolutos para soprar a suavidade quase sensual de um talvez.

 




                                                                                    Moacir Laterza Filho